28 de dezembro de 2015

“Tratado sobre a Tolerância’’

trecho de “Tratado sobre a Tolerância’’
François Marie Arouet (Voltaire)
-1763-
“Não é mais aos homens que me dirijo. É a você, Deus de todos os seres, de todos os mundos e de todos os tempos: Que os erros agarrados à nossa natureza não sejam motivo de nossas calamidades. Você não nos deu coração para nos odiarmos, nem mãos para nos enforcarmos. Faça com que nos ajudemos mutuamente a suportar o fardo de uma vida penosa e passageira.
Que as pequenas diferenças entre as vestimentas que cobrem nossos corpos, entre nossos costumes ridículos, entre nossas leis imperfeitas e nossas opiniões insensatas, não sejam sinais de ódio e perseguição.
Que aqueles que acendem velas em pleno dia para celebrá-lo, suportem os que se contentam com a luz do sol.
Que os que cobrem suas roupas com um manto branco para dizer que é preciso amá-lo, não detestem os que dizem a mesma coisa sob um manto negro.
Que aqueles que dominam uma pequena parte desse mundo, e que possuem algum dinheiro, desfrutem sem orgulho do que chamam poder e riqueza e que os outros não os vejam com inveja, mesmo porque, Você sabe que não há nessas vaidades nem o que invejar nem do que se orgulhar.
Que eles tenham horror à tirania exercida sobre as almas, como também execrem os que exploram a força do trabalho. Se os flagelos da guerra são inevitáveis, não nos violentemos em nome da paz.
Que possam todos os homens se lembrar que são irmãos!’’

























17 de maio de 2015

No templo



Há um medo
que se esconde
atrás da porta.
Torta a boca,
pouca a fala,
olhos no chão.

Um menino
de olhar esbugalhado.
tão calado
que parece
que morreu.

Não sou eu,
que o vejo
do meu canto.
Sem espanto,
sem buscar explicação.

Há um medo
que me fita e paralisa
com seu olhos
como de um congelador.

Um vitral
impede raios penetrarem
e tentarem derreter toda essa estase.

Quase chega
alguma luz,
alguma cor.

Há um homem
semi-nu
pendido à cruz.

Há pessoas coloridas
no vitral.

Há um medo
de pecar
ou de viver.

por 

21 de abril de 2015

Alice in Wonderland


"Amo-te
sem saber como,
nem quando,
nem onde,
amo-te
simplesmente
sem problemas
nem orgulho:
amo-te
assim
porque
não sei amar de outra maneira."

Pablo Neruda

Pensata



Quem parte
não leva
a lembrança
que deixa.


[Adauto Suannes]








Trova




Ando a esmo, qual criança,
dizem que não tenho siso,
um louco que ri e dança
por causa do teu sorriso.

[Adauto Suannes]

Quadra


Penso em ti a todo momento,
não sabes quanto
te quero;
mesmo nas tardes
sem vento,
no meu veleiro
eu te espero.
[Adauto Suannes]

12 de agosto de 2013

Vivendo a dor de saber
Que esse céu é tão longe
Que tudo o que nasce
Um dia parte

Até meu carinho
Até nosso amor.
Até você 



Se desmorono ou edifico,
se permeneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno e asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.

(Fragmento de "Motivo", Cecília Meireles)

Todo Sentimento (Chico Buarque)

Preciso não dormir
Até se consumar
O tempo da gente.
Preciso conduzir
Um tempo de te amar,
Te amando devagar e urgentemente.
Pretendo descobrir
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez,
Que recolhe todo sentimento
E bota no corpo uma outra vez.
Prometo te querer
Até o amor cair
Doente, doente...
Prefiro, então, partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente.
Depois de te perder,
Te encontro, com certeza,
Talvez num tempo da delicadeza,
Onde não diremos nada
Nada aconteceu.
Apenas seguirei
Como encantado ao lado teu.
"Escolher a própria máscara é o primeiro gesto voluntário humano. E solitário." 

(Clarice Lispector)

11 de agosto de 2013

Pessoa

"Que de Infernos e Purgatórios e Paraísos tenho em mim - e quem me conhece um gesto discordando da vida... a mim tão e plácido?"
"(...) Não desembarcar não tem cais onde se desembarque. Nunca chegar implica chegar nunca."

(de "O Livro do Desassossego", Fernando Pessoa)

23 de maio de 2013




"Mire veja: 
o mais importante e bonito, 
do mundo, 
é isto: 

que as pessoas não estão sempre iguais,
 ainda não foram
 terminadas - mas que elas
 vão sempre mudando."



8 de abril de 2013

Michael Poeta

A primeira vez que li  um poema de Michael Jackson, fiquei tão ansiosa, que não conseguia me concentrar. Com todo preconceito existente em torno dele, insiste uma resistência entre os mais "cult",  em assumir a admiração. A minha credibilidade quanto ao seu caráter, vem de acompanhar, mesmo de longe, todo seu trabalho como alguém extremamente amoroso com o ser humano.  Mas isso é um outro assunto. O que quero mesmo, é postar aqui a poesia dele. 

GOD

É estranho que Deus não tenha se importado em expressar a ele ou ela em todas as religiões do mundo, enquanto as pessoas ainda se apegam à ideia de que seu caminho é o único caminho certo.

Tudo o que você tenta dizer a respeito de Deus, alguém vai se ofender, mesmo que todos digam que o amor de Deus é bom para eles.


Para mim, a forma que Deus toma não é a coisa mais importante. O mais importante é a essência. Minhas canções e danças são esboços para Ele entrar e preencher. Eu apresento a forma. Ela põe a doçura.

Eu olhei para o céu à noite e vi as estrelas tão intimamente próximas, era como se minha avó as tivesse feito pra mim.

"Como é rico, como suntuoso", pensei. Naquele momento eu vi Deus em Sua criação. Como eu poderia facilmente tê-la visto na beleza de um arco-íris, na graça de um cervo delimitada por um prado, na verdade de um beijo de pai. 

Mas para mim o mais doce contato com Deus não tem forma. Eu fecho meus olhos, olho pra dentro, e entro num profundo e macio silêncio.

A infinidade da criação de Deus me abraça. Nós somos um. 


*Do livro "Dancing the Dream", de poemas e pensamentos escritos por Michael.

30 de outubro de 2012

Vida vivida

A vida é assim indefinida. Cruel. Louca. Assim, cheia de motivos doloridos pra se viver. Coração em conflito, cérebro  incrédulo, e solidários entre si, um paradoxo complexo.

22 de julho de 2012

                           Um dia triste, toda fragilidade incide!

3 de fevereiro de 2012

O imbróglio das sacolinhas "pra inglês ver"

-Qualquer semelhança (de nacionalides) é mera coincidência. 
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Abilio_Diniz)   

Engana-me que eu gosto



Existem várias versões para o significado da expressão "para inglês ver" e que remontam  à sua origem. Uma delas diz que em 1815, os portugueses e os britânicos firmaram um compromisso, no qual Portugal se comprometeu a não mais traficar escravos. Todavia, como Portugal não vinha cumprindo o compromisso, o  Parlamento Britânico acabou aprovando uma lei que criminalizava a escravatura e concedia, unilateralmente, à frota real britânica  poderes para abordar e inspecionar os navios portugueses. Como estratégia para enganar os ingleses, os portugueses carregavam a embarcação que ia à frente da frota com uma carga inofensiva para ser inspecionada, levando os escravos nos navios posteriores, que se safavam da inspeção.

Outra versão diz que, em 1831, o Governo português promulgou uma lei proibindo o tráfico negreiro, mas como o sentimento geral era de que a lei não seria cumprida, começou a circular a expressão de que a lei fora feita apenas "para inglês ver".

E, ainda, outra versão diz que, após a partida da família real portuguesa para o Brasil, Portugal passou a ser uma espécie de protetorado da Inglaterra, que assumiu o comando da máquina militar lusitana na luta conjunta contra a França. Mas, os metódicos ingleses que queriam tudo organizado e por escrito tinham problemas com os práticos portugueses. Assim, a cada imposição organizacional inglesa, os portugueses botavam tudo por escrito, para mostrar que estava tudo em ordem. Mas, era só no papel. Servia apenas para agradar os ingleses e dizer que estava tudo arrumado, isto é, era só para os ingleses lerem (ou verem). Na prática, as coisas eram bem diferentes.  O mesmo se dava nas visitas dos generais ingleses a certos locais, que eram preparados (maquiados, como hoje diríamos) para dar uma aparência diversa do real. Se os ingleses exigiam a construção de uma estrada, os portugueses deixavam pás, pedras e outros materiais  no local da visita para simular a construção da mesma. Assim, diziam que já a estavam construindo. Era o que os ingleses viam. Ficou a expressão e o aprendizado. Mas, naquela época, consta que, de fato, os ingleses eram enganados.

Neste meu primeiro artigo do ano, abordo um assunto que, infelizmente, é básico quando se trata de relações de consumo: o das mentiras e toda sorte de enganações perpetradas por muitos fornecedores. Lembrarei também uma atitude de  uma grande parcela de consumidores diante das mentiras – às vezes insultuosas -: a da aquiescência pueril;  aceitam o falso sem senso crítico, apenas porque ele tornou-se banal ou é bem produzido, bem comunicado ou apresentado por alguém que detém autoridade. Muitas delas, apenas para inglês ver. 

A propósito, atualizando a expressão e usando uma outra um pouco modificada, refiro-me a um filme tipicamente hollywoodiano,  que no Brasil ganhou o título de "Esposa de mentirinha", mas que em Portugal é intitulado "Engana-me que eu gosto". Trata-se de uma simpática comédia estrelada por Adam Sandler e Jennifer Aniston. Ele, depois de uma decepção amorosa, que impediu seu casamento, continua a usar uma aliança no dedo, dizendo-se casado e, com isso, conquista muitas garotas. Diz ele no filme: "Descobri o poder da aliança". Uma brincadeira, mas que, de todo modo, ilustra um fato importante: se de um  lado a mentira pode ser conscientemente utilizada, de outro, muitas vezes, a pessoa enganada, estava mesmo interessada em sê-lo. Aceita a mentira porque lhe soa cômoda ou está de acordo com seu próprio interesse ou, ainda, porque não desenvolveu senso crítico capaz de percebê-la.

De há muito tempo que os consumeristas  descobriram que um dos fundamentos da sociedade capitalista de consumo é a mentira. Largos setores empresariais  são desonestos na relação com seus clientes, como, aliás, tenho mostrado em vários de meus artigos. Não há, claro, nenhuma novidade nisso. Quem conhece um pouco da história do comércio, da indústria, da economia, etc sabe muito bem que os segredos, as artimanhas, os conchavos, os acertos escusos, etc são a base da produção e distribuição de produtos e serviços. Transparência não é um termo conhecido  ou utilizado e não é porque alguém não queira ser transparente, mas simplesmente porque é da essência do modelo capitalista. Como diria Sócrates, a quem aqui já me referi, "mentir é pensar uma coisa e dizer outra". Parafraseando-o, posso dizer que no processo de produção capitalista faz-se muita coisa mas se mostra outra diferente.

Vejamos a ladainha das sacolas plásticas nos supermercados da cidade de São Paulo. Evidentemente, todos estão a favor de eliminar do mercado os produtos que causem danos ao meio ambiente. Quem pode estar contra? A questão não é essa. Como disse meu amigo Outrem Ego, "Porque esse pessoal dos supermercados não veio a público e contou a verdade? Porque, simplesmente, não disseram: 'A partir de agora, os consumidores terão de pagar pelas sacolas para poderem levar suas compras". "Será que precisava de tanto esforço? Fizeram lobby junto aos vereadores; aprovaram uma lei que dizia que seria para proteger o meio ambiente; sofreram derrota na Justiça e ao final fizeram o que queriam desde o início: impingiram o custo das sacolas aos consumidores". "O interessante", disse ele, "É que sempre passa o filme 'Engana-me que eu gosto'. Tem consumidor que acredita na versão, especialmente se ela vem travestida de boas intenções como, no caso, de proteção ao meio ambiente. Boa!". E meu amigo completou "Estão dizendo para o consumidor ir ao supermercado com o carrinho de feira. Ora, se é para ir com carrinho de feira, melhor ir à feira".

Algumas mentiras tornam-se lugares comuns e de tantos serem utilizadas, a população passa a nelas acreditar, inclusive algumas expressões utilizadas regularmente. Por exemplo, é costume referir-se à indústria de veículos como a "indústria nacional de veículos". Ora, nós não temos indústria nacional de veículos. São todas estrangeiras, aqui estabelecidas, muitas delas com enormes incentivos e que, todos os anos, enviam para o exterior os gordos lucros obtidos. Talvez devêssemos  mesmo é lamentar que não tenhamos um veículo nacional como têm os americanos, os franceses, os italianos, os japoneses, os alemães, os coreanos, os chineses e não ficarmos nos "orgulhando" de uma indústria que não é brasileira.

E, por falar nelas e no tema  da verdade, lembro que os jornais dos últimos dias noticiaram que o setor remeteu às matrizes no exterior nada mais nada menos que cinco bilhões, quinhentos e oitenta milhões de dólares. Vou até repetir: US$5,58 bilhões! (Em 2010 não ficou muito longe. Foram US$4,10 bilhões). Para se poder ter uma ideia da dimensão dessequantum, veja-se que dá US$465.000  milhões por mês ou  R$790.500.000,00/mês (usado o dólar a R$1,70). É mesmo muito dinheiro e que sai do suado trabalho e  do salário dos brasileiros.

Vamos aos fatos: esse setor industrial "nacional" produz veículos cuja qualidade em termos de tecnologia de ponta está atrasada em relação a outros lugares do mundo e os vende a preços altíssimos. O que os empresários do setor falam? Vivem reclamando dos impostos cobrados, querem por que querem incentivos fiscais (e, aliás, conseguem), cobram financiamentos públicos baratos (e também conseguem), reclamam da falta de competitividade, etc. Ora, ora, pois como diria meu amigo acima:  senhores, sejam honestos. Vocês estão vendendo a altos preços produtos de tecnologia e conforto inferiores aos produzidos no exterior e obtendo lucros sensacionais.

A questão é que, essas versões surradas são enfiadas pela goela das pessoas e repetidas tantas vezes que soam como verdades. As pesquisas mostram que as pessoas se acostumam com as coisas rotineiras, comuns, banais e acabam aceitando-as como válidas e verdadeiras. Ou, então, aceitam os fatos como se eles não pudessem ser diferentes. Para usar mais um exemplo de meu amigo. Disse-me ele que só percebeu que a cidade de São Paulo era tão esburacada quando viajou pela primeira vez ao exterior. Já há muitos anos ele dirigiu mais de 1.000 quilômetros por ruas e estradas americanas e canadenses sem ter passado por nenhum buraco. Mas, foi só quando retornou à São Paulo que ele percebeu como nossas ruas são incrivelmente esburacadas, onduladas, e estragadas. Vale dizer, que sem alternativa ou jogados à própria sorte, as pessoas acabam aceitando as normas, o jeito do local que habitam, enfim o mundo em que vivem como se as coisas não pudessem ser de outro modo.

Quanto aos consumidores, estes  estão tão absorvidos pelo mundo do marketing, da publicidade, das compras, que não conseguem se dar conta dos direitos que poderiam ter. Os consumidores vão sendo amaciados e tornam-se passivos na avaliação do real, acatando regras, contratos, imagens, textos como os ingleses do período acima citado ou pior, diante de uma realidade que, melhor avaliada, levaria à descoberta da verdade, acabam  aceitando-a porque foram acostumados ao cômodo e inexorável andar das circunstâncias que não lhes pertence. Às vezes, claro, dela usufruindo, pois como diria a garota enganada pelo falso marido, "engana-me que eu gosto".

________________________
* Rizzatto Nunes Desembargador do TJ/SP, escritor e professor de Direito do Consumidor.

17 de janeiro de 2012

Estou em obras

Joguei fora minhas máscaras, descobri que sou minha melhor versão. 
Joguei fora minhas mentiras antes que elas se tornassem minhas verdades. 
Joguei fora minhas ilusões, assim encaro a vida com os pés no chão. 
Joguei fora minha indiferença, aumentou um pouco a dor e muito o amor. 
Sempre repetirei esse processo, pois joguei fora a ideia de que estou pronto, definido. 
Estou em obras. 
Amanhã posso escrever uma nova história.


Villy Fomin


onde a sua imaginação pode levá-lo

      
   "Apenas! Essa é uma palavra terrível, capaz de apagar uma vela."


Em Busca da Terra do Nunca
.

16 de janeiro de 2012

Do Casamento entre o céu e a terra -Leonardo Boff


"Hoje nos encontramos numa fase nova na humanidade. Todos estamos regressando à Casa Comum, à Terra: os povos, as sociedades, as culturas e as religiões. Todos trocamos experiências e valores. Todos nos enriquecemos e nos completamos mutuamente. (...)
(...) Vamos rir, chorar e aprender. Aprender especialmente como casar Céu e Terra, vale dizer, como combinar o cotidiano com o surpreendente, a imanência opaca dos dias com a transcendência radiosa do espírito, a vida na plena liberdade com a morte simbolizada como um unir-se com os ancestrais, a felicidade discreta nesse mundo com a grande promessa na eternidade. E, ao final, teremos descoberto mil razões para viver mais e melhor, todos juntos, como uma grande família, na mesma Aldeia Comum, generosa e bela, o planeta Terra."
Casamento entre o céu e a terra. Salamandra, Rio de Janeiro, 2001.pg09


.

23 de outubro de 2011

LADAINHA
Cassiano Ricardo

Por que o raciocínio,
os músculos, os ossos?
A automação, ócio dourado.
O cérebro eletrônico, o músculo
mecânico
mais fáceis que um sorriso.

Por que o coração?
O de metal não tornará o homem
mais cordial,
dando-lhe um ritmo extra-
corporal?

Por que levantar o braço
para colher o fruto?
A máquina o fará por nós.
Por que labutar no campo, na cidade?
A máquina o fará por nós.
Por que pensar, imaginar?
A máquina o fará por nós.
Por que fazer um poema?
A máquina o fará por nós.
Por que subir a escada de Jacó?
A máquina o fará por nós.

Ó máquina, orai por nós.

Jeremias Sem-Chorar

Cassiano Ricardo

ROTAÇÃO

a esfera
em torno de si mesma
me ensina a espera
a espera me ensina
a esperança
a esperança me ensina
uma nova espera a nova
espera me ensina
de novo a esperança
na esfera

a esfera
em torno de si mesma
me ensina a espera
a espera me ensina
a esperança
a esperança me ensina
uma nova espera a nova
espera me ensina
uma nova esperança
na esfera

a esfera
em torno de si mesma
me ensina a espera
a espera me ensina
a esperança
a esperança me ensina
uma nova espera a nova
espera me ensina
uma nova esperança
na esfera

12 de outubro de 2010

BOLERO-RAVEL

Solidão contente



O que as mulheres fazem quando estão com elas mesmas

Ontem eu levei uma bronca da minha prima. Como leitora regular desta coluna, ela se queixou, docemente, de que eu às vezes escrevo sobre “solidão feminina” com alguma incompreensão.

Ao ler o que eu escrevo, ela disse, as pessoas podem ter a impressão de que as mulheres sozinhas estão todas desesperadas – e não é assim. Muitas mulheres estão sozinhas e estão bem. Escolhem ficar assim, mesmo tendo alternativas. Saem com um sujeito lá e outro aqui, mas acham que nenhum deles cabe na vida delas. Nessa circunstância, decidem continuar sozinhas.

Minha prima sabe do que está falando. Ela foi casada muito tempo, tem duas filhas adoráveis, ela mesma é uma mulher muito bonita, batalhadora, independente – e mora sozinha.


Ontem, enquanto a gente tomava uma taça de vinho e comia uma tortilha ruim no centro de São Paulo, ela me lembrou de uma coisa importante sobre as mulheres: o prazer que elas têm de estar com elas mesmas. “Eu gosto de cuidar do cabelo, passar meus cremes, sentar no sofá com a cachorra nos pés e curtir a minha casa”, disse a prima. “Não preciso de mais ninguém para me sentir feliz nessas horas”.

Faz alguns anos, eu estava perdidamente apaixonado por uma moça e, para meu desespero, ela dizia e fazia coisas semelhantes ao que conta a minha prima. Gostava de deitar na banheira, de acender velas, de ficar ouvindo música ou ler. Sozinha. E eu sentia ciúme daquela felicidade sem mim, achava que era um sintoma de falta de amor.

Hoje, olhando para trás, acho que não tinha falta de amor ali. Eu que era desesperado, inseguro, carente. Tivesse deixado a mulher em paz, com os silêncios e os sais de banho dela, e talvez tudo tivesse andado melhor do que andou.

Ontem, ao conversar com a minha prima, me voltou muito claro uma percepção que sempre me pareceu assombrosamente evidente: a riqueza da vida interior das mulheres comparada à vida interior dos homens, que é muito mais pobre.

A capacidade de estar só e de se distrair consigo mesma revela alguma densidade interior, mostra que as mulheres (mais que os homens) cultivam uma reserva de calma e uma capacidade de diálogo interno que muitos homens simplesmente desconhecem.

A maior parte dos homens parece permanentemente voltada para fora. Despeja seus conflitos interiores no mundo, alterando o que está em volta. Transforma o mundo para se distrair, para não ter de olhar para dentro, onde dói.

Talvez por essa razão a cultura masculina seja gregária, mundana, ruidosa. Realizadora, também, claro. Quantas vuvuzelas é preciso soprar para abafar o silêncio interior? Quantas catedrais para preencher o meu vazio? Quantas guerras e quantas mortes para saciar o ódio incompreensível que me consome?

A cultura feminina não é assim. Ou não era, porque o mundo, desse ponto de vista, está se tornando masculinizado. Todo mundo está fazendo barulho. Todo mundo está sublimando as dores íntimas em fanfarra externa. Homens e mulheres estão voltados para fora, tentando fervorosamente praticar a negligência pela vida interior – com apoio da publicidade.

Se todo mundo ficar em casa com os seus sentimentos, quem vai comprar todas as bugigangas, as beberagens e os serviços que o pessoal está vendendo por aí, 24 horas por dia, sete dias por semana? Tem de ser superficial e feliz. Gastando – senão a economia não anda.

Para encerrar, eu não acho que as diferenças entre homens e mulheres sejam inatas. Nós não nascemos assim. Não acredito que esteja em nossos genes. Somos ensinados a ser o que somos.

Homens saem para o mundo e o transformam, enquanto as mulheres mastigam seus sentimentos, bons e maus, e os passam adiante, na rotina da casa. Tem sido assim por gerações e só agora começa a mudar. O que virá da transformação é difícil dizer.

Mas, enquanto isso não muda, talvez seja importante não subestimar a cultura feminina. Não imaginar, por exemplo, que atrás de toda solidão há desespero. Ou que atrás de todo silêncio há tristeza ou melancolia. Pode haver escolha.

Como diz a minha prima, ficar em casa sem companhia pode ser um bom programa – desde que as pessoas gostem de si mesmas e sejam capazes de suportar os seus próprios pensamentos. Nem sempre é fácil.


IVAN MARTINS
editor-executivo da revista Época

23 de março de 2010

Oscilações De Um Tempo




Por Jussara

Nosso tempo.
Tempo real. Tempo paradoxal. Tempo complexo. Tempo globalizado. Tempo hedonista. Tempo das euforias químicas, superficiais. Tempo do possuir, do realizar. Tempo cibernético, de relacionamentos virtuais. Tempo de maquiar verdades. Tempo de mascarar mazelas. Tempo relativizado. Tempo dos discursos, da pregação teórica. Tempo do caráter diluido na necessidade do bem estar. Tempo da banalização do sagrado. Tempo das crises paradigmáticas, evidenciada na perda de valores. Tempo de não saber o certo ou errado, normal ou patológico.
Tempo da competitividade alimentada pelo individualismo e consumismo, passaporte para a busca da independência e autonomia; com propósito do poder para suprir carências afetivas, carências da alma . Tempo das vaidades que servem como máscaras, que desde cedo se aprende a usar, gerando a ilusão de que se é aceito e querido. Tempo em que poder e prosperidade são garantias de aceitação numa sociedade cuja mentalidade gira, gira e cai na futilidade contemporânea.
Sob esses aspectos, relacionamentos são construídos com estranhos mascarados que não valem pelo que são, e sim pelo que fazem, pelo tem; pelo que aparentam.
Esconde-se, efetivamente, o que prejudica a imagem fabricada, condição de ser aceito no mundo ideal, onde a honestidade está escondida no quarto escuro da alma, aprisionando consigo a liberdade e a dignidade.
Crianças. Crianças são aquilo que desejam ser quando crescerem. Idosos são marginalizados e abandonados, pois já não produzem, não geram riquezas.Pobres; os pobres de dinheiro, pobres no físico, os pobres de conhecimento. São tantos os pobres. E estes, estes são um problema a ser resolvido, e não pessoas para serem amadas. Suportam o peso da indiferença, não pertencem ao universo do tempo real.Em tempo de profundas instabilidades, critérios de verdadeiros relacionamentos são questionáveis, mesmo em ambientes em que o discurso e a prática deveriam andar de mãos dadas.O tempo, como um ralo enorme, escoa tudo com ele, tudo se vai.
O que deveria ficar ? A simplicidade. É só na simplicidade que se consegue enxergar a significância real da vida, a siginificância de um tempo que não devolve o que se perdeu, um tempo que não volta jamais. Um tempo que nos fará lamentar o tempo perdido.

27 de janeiro de 2010

A Lista

a lista

osvaldo montenegro


Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais...
Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar!
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar...
Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora?
Hoje é do jeito que achou que seria
Quantos amigos você jogou fora?
Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender?
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber?
Quantas mentiras você condenava?
Quantas você teve que cometer?
Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você?
Quantas canções que você não cantava
Hoje assobia pra sobreviver?
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você?


18 de janeiro de 2010



Tempo que Foge

Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço. (...)
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita para a “última hora”; não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja andar humildemente com Deus.

Caminhar perto dessas pessoas nunca será perda de tempo.

(Ricardo Gondim)




fonte: http://foradazonadeconforto.blogspot.com/2009/11/tempo-que-foge.html


Haiti...

Deus de vez em quando me tira a poesia.
Olho para o Haiti
e vejo o
Haiti.

(parafraseando Adélia Prado)






O Brasil e o mundo estão cheios de Haiti's
A gente não precisa esperar acontecer uma grande catástrofe pra ajudar. Melhor prevenir.

http://www.oquevivipelomundo.blogspot.com/

17 de janeiro de 2010




Cecília Meireles fala da eternidade que se sobrepõe ao efêmero.



“Tu tens um medo:

Acabar.

Não vês que acabas todo dia.

Que morres no amor.

Na tristeza.

Na dúvida.

No desejo.

Que te renovas todo dia.

No amor.

Na tristeza.

Na dúvida.

No desejo.

Que és sempre outro.

Que és sempre o mesmo.

Que morrerás por idades imensas.

Até não teres medo de morrer.

E então serás eterno.”

(poema pertencente ao livro Cânticos, de 1927)









Não há sentido na efemeridade viciosa,
limitada a um

sistema incompleto e deficiente,
se há um Criador cujo
objetivo foi constituir família.



Não há sentido se não houver eternidade!


Ísso faz parte da minha Fé!

10 de dezembro de 2009

DESEJO (de Victor Hugo, adaptado por Vinícius de Moraes)



Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.
Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.
Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.
Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.
Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra ,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.
Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você sesentirá bem por nada.
Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
Eque pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga `Isso é meu`,
Só para que fique bem claro quem é o dono dequem.
Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar esofrer sem se culpar.
Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
Eque se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar

De Volta

De volta... muito mais consciente de que tudo é vento, de que tudo o que não eleva a alma é fútil. De que, tudo o que não é eterno, é realmente inútil. Pois quem nos fará voltar para ver o que será depois de nós? O que se leva da vida? de fato, é a vida que se leva…




No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas
que o vento não conseguiu levar:
um estribilho antigo

um carinho no momento preciso

o folhear de um livro de poemas

o cheiro que tinha um dia o próprio vento...
(Mario Quintana)










19 de agosto de 2009

"Ele não serve pra você" - um guia para livrar-se de relacionamentos destrutivos


Responda, leitora:
- Você parou de exercer alguma de suas atividades favoritas por causa do seu parceiro?- Você diria que se sente esgotada, em vez de energizada, depois de interagir com aquele que é o homem da sua vida?- Em público, ele se comporta de forma diferente do que faz quando vocês estão sozinhos?- Ele frequentemente a acusa de estar flertando, de não estar onde você disse que estaria ou de envolvimento em atividades suspeitas?- Você o flagra em mentiras que ele não admite, nem quando você tem provas?- Ele se comporta de maneiras que a fazem sentir que ele é uma adolescente e você é sua mãe?- Seu parceiro costuma transformar discussões sobre assuntos importantes para VOCÊ em discussões ques só têm a ver com ELE?- Ele concorda com várias condições de seu relacionamento, depois as ignora completamente, sem qualquer explicação razoável?- Ele a tem depreciado ou criticado com frequencia, e depois insistido que estava “só brincando”?- Você se vê muitas vezes tendo que dar desculpas por ele ou pela forma como ele se comporta?- Você se vê frequentemente dizendo a si mesma “mas ele me ama…”, de modo a justificar os comportamento dele que a magoam?
Essas e outras perguntas fazem parte de um teste do livro Ele não serve pra você - um guia para livrar-se de relacionamentos destrutivos, que será lançado no fim do mês pela Editora Rocco. A autora é Beth Wilson, americana especialista na área de aconselhamento, best-seller e campeã de audiência na internet. Ela o escreveu com a consultoria da psicóloga novaiorquina Maureen Therese Hannah. O alvo do livro são as mulheres que se deixam levar por seus sonhos de encontrar o amor e muitas vezes não conseguem desembarcar de relacionamentos problemáticos, que podem acabar com suas vidas.
A autora fala de como essa armadilha da relação doentia se arma sutilmente em torno dessa mulher. O medo de perder o parceiro é a chave de tudo - daí a ênfase em elevar a autoestima. Ela descreve as formas de controle desses homens, ataca a mitologia romântica e estimula a atenção aos próprios instintos.
Começar a ler o livro me fez lembrar de uma amiga que ficou casada cinco anos e saiu acabada deste relacionamento, em todos os aspectos. Ela não tinha o distanciamento necessário para perceber. Mas nós, amigos, de fora, odiávamos vê-la presa, deprimida, mal cuidada. Este homem não parava de colocá-la pa baixo - inclusive em público. Quem estava por perto morria de vergonha e de raiva por ela. Mas se alguma vez alguém levantou a voz para defendê-la, ela própria pediu que parasse. Suas observações, seus gostos, sua maneira de ser, tudo ele criticava. Chegava a impedir que ela comesse docinhos em festas. Dizia que ela ia ficar cheia de celulites. Tudo da forma mais agressiva possível. Ela tentou se separar algumas vezes, mas aí ele se humilhava, pedia para voltar. Engordou, teve que tomar nti-depressivos, o cabelo caiu por causa dos sistema nervoso. Foram cinco anos terríveis. Sorte que não tiveram filhos. Ela nunca o abandonou. Foi ele que arrumou outra (com quem já tinha um caso de mais de um ano) e acabou com o casamento. Minha amiga sofreu. Mas foi melhor assim. Aos poucos ela se reergueu e hoje está bem, com outro namorado - e o aprendizado do que não deve aceitar em um homem.

Num dos capítulos, Beth dá pistas dos tipos de homem de quem se deve fugir:
O narcisista
O foco é sempre neles e em suas necessidades e, mesmo quando a atenção se volta para outros, não permanece lá por muito tempo. (…) Os narcisistas são naturalmente abusivos no sentido psicológico e emocional porque quase não têm espaço para acomodar os outros. (…) São cronicamente atrasados (porque qualquer coisa que estejam fazendo é prioridade), esquecem de aniversários, julgam pessoas rapidamente. Quando sentem que você não está lhe dando total atenção, reagem com tiradas que induzem à culpa.
O “cara legal”
Uma vez uma amiga me ligou para perguntar se era normal que um cara sempre estendesse a mão para outra mulher, algumas que mal conhecia. Será que ele era apenas “legal demais”? Dois meses depois ela telefonou para contar que ele estava fazendo sexo com outras mulheres - tendo mentido a respeito. “Ajudar mulheres” era seu método de invadir suas vidas e, por fim, suas calças.
O predador
Cruel, coração frio, isento de empatia. (…) Os predadores são especialistas habilidosos em imitar uma ligação psicológica e emocional, e até mesmo espiritual. (…) Mas essas falhas podem ser imperceptíveis quando você está encantada por ele. Normalmente trabalham duro e estudam muito para atingir suas metas. (…) Mas só enxergam os que estão ao redor exclusivamente com relação às próprias necessidades e frequentemente afligem as outras pessoas por seu ganho próprio. (…) Mudam de humor rapidamente: se enfurecem e depois são subitamente meigos. Mentem sobre remorso.
O viciado
Você tenta lidar com isso de modo que os vizinhos não o vejam bêbado no jardim. Tenta esconder o dinheiro. Tenta ser uma esposa e uma mãe melhor para reduzir o estresse, e ainda pensa que você pode ser a causa disso tudo. (…)
O viciado em sexo
Ele oscila entre querê-la e se mostrar indiferente na cama? Fica no computador, escondido, à noite? Flerta em festas, quando acha que você não está olhando ou trata você como se fosse invisível quando é apresentado a uma mulher atraente? Sutilmente faz comentários depreciativos sobre seu corpo, seu peso, sua aparência, para mantê-la retraída? (…) E depois dirá que você está exagerando e que “todos os homens precisam ver pornografia” ou “todos os homens têm casos extraconjugais quando não estão satisfeitos em casa; qual o problema?” Também podem ser muito possessivos, já que para eles é inconcebível que outros homens não a estejam cobiçando, da mesma forma como ele cobiça outras mulheres.
E você, já teve um relacionamento destrutivo?

por Martha Mendonça
Fonte:Época

Sem sexo, sem comida




No último domingo, uma lei retrógrada foi publicada no Afeganistão. Ela permite que homens da etnia hazara possam castigar suas mulheres deixando-as sem comida caso elas lhe neguem o tamkeen, o direito da satisfação das necessidades sexuais, como informa o jornal espanhol El País. Os hazaras representam 9% da população total do país.
O repórter do jornal espanhol visitou os bairros onde os hazaras se concentram para saber a repercussão da lei. Alguns disseram não saber da nova ordem. Mas é disseminada entre eles a punição em que o marido pode impedir a mulher de sair de casa quando entende que ela não o satisfaz. “É o que diz o corão”, diz um taxista local.
O líder espiritual hazara Mohakik Zada, opositor do Taliban e propagador de ideias mais liberais com relação ao islamismo, diz que a lei, na verdade, beneficia as mulheres e que a parte que diz respeito ao tamkeen é a única que agrada os homens. “A proibição de sair de casa está prevista no código civil, não é algo novo. A norma representa uma melhora porque a mulher poderá sair em caso de urgência, se estiver doente, por exemplo”, disse Zada. “A mulher pode impor todas as condições que quiser antes do casamento: permissão para sair, decidir se quer ou não usar burca ou questões relativas ao divórcio. A lei as ampara. O que acontece é que quase ninguém conhece a lei ou seus direitos”.
Zada afirma que a obediência da mulher ao tamkeen está prevista no Corão. O livro estabelece também a gradação da pena imposta pelo marido. “Primeiro, ele pode deixar de falar com ela. Depois, separar as camas; terceiro dar-lhe um aviso. Apenas em último caso é permitido golpear a mulher suavemente, sem causar feridas”.
O mulá defende a ideia de que a lei melhora a condição das mulheres. Permite que elas neguem sexo se estiverem menstruadas ou com dores. Ele ainda acusa a imprensa estrangeira de descontextualizar o assunto. “Acontece no Irã, Iraque, Síria. Por que tanto barulho com o Afeganistão?”.


por Maria Laura Neves
Revista Época

12 de agosto de 2009

Uivando para a Lua





Caro leitor, caso queira buscar uma religião, evite aquelas que têm menos de mil anos NÃO SOU contra a religião. Ser religioso não implica ser menos inteligente, informado ou ético. Tem muita gente "inteligente" que comete erros ridículos como esse. Nem todo religioso uiva para a Lua. Tampouco os religiosos detêm o monopólio do apetite por matar seus semelhantes. Religiosos ou não, gostamos de matar e odiar. O século 20 destruiu qualquer ilusão quanto à doçura ou autocrítica dos ateus ou dos que creem na "história" ou na ciência.Mas de fato há riscos específicos na crença religiosa, ainda mais em tempos de indústria cultural. Caro leitor, caso queira buscar uma religião, evite aquelas que têm menos de mil anos. Em matéria de religião, quanto mais velha, melhor. Outra coisa: se passou pela Califórnia, a chance de a religião ficar boba aumenta muito.Mas existem umas "novas" religiões por aí, que Deus me perdoe. Pegue o exemplo do tal neopaganismo da deusa-mãe. Pessoas de boa-fé simpáticas aos paganismos antigos devem tomar cuidado com a literatura barata que é comum nessa área. Procurem trabalhos de historiadores da Antiguidade e da Idade Média reconhecidos, e não livros de auto-ajuda espiritual escritos por picaretas quânticos. Infelizmente, muitos dos neopagãos soam como adolescentes mal-informados e de idade um pouco passadinha.O termo "paganismo" aqui normalmente quer dizer religião celta, mas às vezes pode ser uma salada mista com a Isis egípcia e o Odin escandinavo. Percebe-se que a atitude é basicamente a mesma de quem escolhe uma calça jeans, um CD ou uma praia "cabeça". Na falta de informação arqueológica significativa sobre essas religiões "celtas" (fato que os neopagãos desconhecem), filmes ruins e literatura barata entram no lugar, compondo o imaginário "histórico" acerca do passado celta, que é sempre visto como harmonioso e sábio como se houvesse algum passado harmonioso e sábio em nossa história.Um dos exemplos da visão adolescente nesse caso é achar que o cristianismo destruiu uma religião (das bruxas celtas) que vivia em paz com o mundo. Não existe religião na história que não tenha tido seu quinhão de sordidez, mas "crianças" não entendem isso. Segundo algumas fontes romanas (não cristãs), há suspeita de que alguns dos cultos "celtas" praticavam sacrifícios humanos, o que para os romanos era um pouco fora dos limites. Os romanos eram conhecidos por sua tolerância religiosa (Roma não foi um desfile de Neros), se eles destruíram alguns desses cultos, é porque coisa boa não era.O imaginário adolescente é claro: o cristianismo, este perverso, patriarcal, destruiu uma sociedade onde homens e mulheres viviam em comunhão sem opressão. Para eles, queimaram-se milhares de mulheres e homens inteligentíssimos na Idade Média. A verdade é que provavelmente a maior parte dessas infelizes vítimas era gente boba mesmo. Pergunta: como seria o mundo se o paganismo tivesse vencido?Responderiam os "adoradores da deusa": viveríamos num mundo sem classes, sem machismo, sem ódio, sem guerras, mas, ainda assim, rico, com antibióticos, internet, sexo aos montes, aviões e baladas.As bobagens também aparecem no uso absurdo de referências advindas de sistemas religiosos que ainda existem. Por exemplo, alguns neopagãos afirmam que a cabala (mística judaica medieval) foi uma criação egípcia pré-era cristã! A tal "árvore da cabala", onde aparecem os atributos de Deus, é uma das coisas que mais sofrem com o besteirol neopagão. A culpa do mau uso da cabala é, em parte, infelizmente, de alguns "cabalistas" judeus atuais que a vendem como receita barata de conseguir dinheiro, amor e sexo. Jung também vira bobagem nas mãos dos neopagãos: tudo é "arquétipo" a serviço de qualquer ideia besta que você tenha.O neopaganismo é em grande parte invenção de caras ingleses esquisitos e suas namoradas mal-amadas do século 20 mesmo. Junte-se a isso um pouco de física quântica (aquela que, segundo alguns "entendidos", faz acontecer tudo o que você quiser contanto que se diga a palavra mágica "energia!"), a mania incontrolável de falar sobre si mesma, uma pitada de feminismo místico, e você será uma neobruxa.Tenho um critério para levar religiosos a sério: se usar a palavra "energia" e disser que posso fazer tudo o que eu quiser porque tudo o que preciso saber está em meu inconsciente, pulo fora. O próximo passo dele será uivar para a Lua.

por Luis Felipe Pondé

publicado em 1/6/2009
na Folha SP


L F Pondé é filósofo e psicanalista, doutorado em Filosofia pela USP,e pós-doutorado em Epistemologia pela Univ de Tel Aviv. Atuou como professor nas univ. de Marburg (Alemanha) e Sevilha (Espanha). Professor de pós-graduação em Ciências da Religião do Dpto de Teologia da PUC, da Faculdade de Comun. da Faap e da pós-graduação de ensino em Ciências da Saúde da Unifesp e da Casa do Saber.